PAI-chão

Paixão – aquela espécie de abalo que incendeia a vida como se fosse fogo de palha – a gente reconhece à primeira vista. Contudo, PAI-chão geralmente só é reconhecido à segunda, terceira ou quarta vista… quando não é preciso muitas outras revisões – cheias de análises e sínteses – para nos darmos conta desta figura fundamental em nossa história.

PAI-chão é aquela presença que, como um portal, nos traz para a vida; nem sempre lambe as crias, mas com frequência, direta ou indiretamente, fareja e fica de orelha em pé e olho espichado por onde quer que elas estejam. A grande maioria ampara seus filhotes como dá conta e com o melhor que tem. E por instinto paternal dá limites e corta as asas de seus herdeiros porque sabe que isto, com o tempo, fortalece as pernas e faz o vôo pela vida ser realmente sustentável e admirável.

PAI-chão é o que nos dá base para crer e ser na vida, para crescer firme, escolher bem, investir no bem, colher e compartilhar o bem. É o que se faz presente mesmo quando já se foi.

PAI-chão é bem mais que SEMENte que cria raízes e frutos; é todo um território que se revela gradativamente por toda a nossa vida. Enquanto não estamos de bem e em paz neste território cometemos o pecado original – que em essência é negar nossa origem e nossa história – e pelejamos numa busca inconsciente e exaustiva pelo paraíso perdido.

Não basta ser pai, é preciso ser chão; esparrAMAR-se para apoiar e impulsionar, em todos os sentidos, o andar dos que chegam.

Não basta ter pai; é preciso assumi-lo, redescobri-lo, vivenciá-lo e honrá-lo de diversas formas.

Às vezes também é preciso, sabiamente, inventariar os históricos, reler a história, reequacionar as demandas, desenhar novos traços e dar novos coloridos na relação entre pais e filhos; enfim, fazer um novo parto.

 Manúcia Passos de Lima

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