ARreMATAR

ARreMATAR é tão importante quanto alinhavar, contudo, esta ação – tão rica em sua essência e em sua funcionalidade – parece criar constrangimentos…

Arrematamos quando nos permitimos o luto da perda, a clareza do know-how, o amargo do desapontamento, a alegria de novas perspectivas, o desconforto de não sermos super-heróis… quando sacamos que às vezes investimos mal ou que mesmo tendo investido bem já não há mais o que aprender ou ganhar numa história… Arrematamos bem quando damos o braço a torcer para o poder do desapego e aprendemos a dar tchau, a virar a página, a largar mão do que não está ao nosso alcance, a colocar pingos nos is, a reorganizar nossas prioridades, a estabelecer limites e a colocar ponto final nas histórias, ou pelo menos nos finais dos parágrafos. Arrematamos, enfim, quando batemos o martelo.

Quem já viveu ou vive perambulando entre pendências e pendengas bem sabe o quanto a falta de arremates é capaz de drenar nossa energia e emaranhar nossas histórias. Aprender a não dar ponto sem nó (clareza de propósito) em si já é um bom arremate. Manda bem quem aprende a passar a régua com freqüência num tipo de contabilidade em que o acerto de contas é contínuo e transparente. Quando o passado não precisa ser passado a limpo realmente arrematamos muito bem e nos sentimos tão inteiros, tão vivos e presentes que não há o que fazer a não ser gozar com as próprias alinhavadas e arrematadas; e aí conseguimos rir com a insustentável leveza do ser e com a vida nos sentimos quites. Ah!!!… Como é bom ARreMATAR.

Manúcia Passos de Lima